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15 de dezembro de 2025
Osasco fica sem atleta trans no Mundial, mesmo sendo anfitrião - regras do vôlei brasileiro não se alinham à da Federação Internacional que acompanha o Comitê Olímpico Internacional.

TRANS: Mundial expõe Osasco à ciência médica internacional

O Mundial de Clubes em São Paulo põe em xeque o caso trans que tem o anfitrião Osasco na demanda. Quando o técnico Luizomar Moura divulgou lista com atletas nativamente femininas, já sinalizava mudança de curso. E por que?

Porque o Mundial de Clubes não é patrimônio da Confederação Brasileira de Vôlei, tem selo da Federação Internacional cujas regras sobrepõem as locais. Assim, de nada vale Osasco ostentar o título da Superliga com transgênero no pódio, pois a Fivb tem medidas próprias e não acompanha a política dita inclusiva da CBV.

Ainda não há uma regra global para o caso trans. O Comitê Olímpico Internacional deixou isso à deriva, mas agora a presidente Kirsty Coventry crava que o tema será detalhado pela entidade com nova política de elegibilidade.

Bicampeã olímpica de natação, a presidente tem um grupo de trabalho para Los Angeles 2028 com o lema ‘Proteção da Categoria Feminina’. Até então, o COI dava total autonomia para as entidades esportivas com regras próprias, agora assume o comando por uma cartilha global. “Estou realmente esperançosa de que nos próximos meses, certamente no primeiro trimestre do próximo ano, já tenhamos uma decisão muito clara e um caminho a seguir”, comentou Kirsty Coventry.

O lema do COI (Proteção da Categoria Feminina), aproxima-se com o decreto do presidente Donald Trump em fevereiro – Mantendo os Homens Fora dos Esportes Femininos -, ordem que está em vigor e que já desqualificou muitos atletas transgêneros.

Acompanhando esse ultimato presidencial, em junho o Comitê Olímpico e Paralímpico dos Estados Unidos proibiu sumariamente mulheres trans. E por conta do vexame do boxe feminino em Paris com atletas da Argélia e de Taiwan, o COI deve mesmo filtrar as competições para LA.

A elegibilidade que permite Osasco transgênero é determinação doméstica, válida apenas para o vôlei feminino local. Com o Mundial em São Paulo e mesmo sendo anfitrião, o clube osasquense não teve competência médica para manter o laudo médico e, então, sequer inscreveu a mulher trans.

O Brasil adota uma política inclusiva, uma bandeira de sexualidade à parte da biomedicina. Se Osasco não pôde validar o laudo nem mesmo amparado pela CBV, é porque o peso não bateu na balança internacional, que está irregular.

Talvez, um dos filtros mais radicais é o do testosterona sérica, pois a o nível (<2,5 nmol/L no sangue) deve apresentar histórico contínuo dos últimos dois anos. Quem examina tudo isso é o Sex Eligibility Committee da Federação Internacional.

Diante disso, o cenário indica que a CBV não acompanha o procedimento médico internacional e que adota regras particulares que a própria Fivb autorizou em modo framework. Voltando à demanda do Osasco Vôlei, com o título da Superliga se credenciava naturalmente para o Mundial de Clubes, mas sem homologação da Federação Internacional, caso perdido.

A diretoria teve tempo para os procedimentos mas, sem competência médica, foi obrigada a recuar diante da divergência entre o regulamento doméstico do vôlei brasileiro com o padrão internacional.