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22 de novembro de 2024
QG Notícias

MÚSICA DA HORA: da Idade Média a Doria, o Dia dos Namorados

São Valentim, padre de Roma condenado à morte no século III por defender o casamento ante a proibição do imperador Cláudio II, é o padrinho do Dia dos Namorados. Época de guerra, Roma decretara proibição letal ao matrimônio mas o bispo quebrava regras às escondidas até que foi descoberto, julgado e condenado em 14 de fevereiro. O sacerdote é considerado mártir e a pena capital aconteceu na véspera de uma festa da Roma antiga dedicada à deusa Juno e ao deus Pan.

Imagine um bando de sacerdotes com chicotes de couro de cabra, uma multidão formando corredor e todas mulheres passando sob as chibatadas da fé – isso para garantir-lhes fecundidade. Já no século XVII, o Dia dos Namorados passaria a enfeitar corações apaixonados na França e na Inglaterra, chegando aos Estados Unidos cem anos depois.

ABRASILEIRADO

No Brasil, a data do mártir romano confronta-se com o carnaval de fevereiro – estamos no final da década de 40. A agência Standard Propaganda trabalha algo a ver com São Valentim mas não tem calendário, até que alguém aparece com outro ícone católico, Santo Antônio, venerado como casamenteiro e que chegava para casar as datas – a festa religiosa em 13 de junho, a versão brasileira de São Valentim no dia 12.

As Lojas Clipper aguarda retorno da agência de propaganda onde trabalha o publicitário baiano João Doria – que bolou o Dia dos Namorado, data comprada pela Confederação do Comércio de São Paulo. Enfim, essa campanha de junho de 1949 encanta os paulistanos com a chamada: “Não é só com beijos que se prova o amor”. Rapidinho, 12 de Junho ganharia o calendário nacional.

No ano de lançamento, claro que não faltava trilha sonora de encher corações. Em 1948, por exemplo, Dorival Caymmi explodia com ‘Saudade de Itapuã’; antes, em 47, Luiz Gonzaga era o show da vez com Asa Branca. Outro sucessão do ano na voz de Dick Farney era ‘A saudade mata a gente’.

Não há como listar aqui a discografia brasileira da década mas, além dessas o Brasil curtia Chiquita Bacana/Emilinha Borba; Copacabana/Dick Farney; Dama das Camélia/Francisco Alves; Maria Bethania/Nelson Gonçalves; Ai que saudade da Amélia/Ataulfo Alves; A dama de vermelho/Francisco Alves; Atire a primeira pedra/Orlando Silva…

Um mês antes de Doria emplacar com as Lojas Cliipper o ”Não é só com beijos que se prova o amor”, os corações se derretiam à voz de Chico Alves na canção ‘Velhas cartas de amor’, composição dele em parceria com Klecio Caldas. Seguindo essa linha de cartas love, a Música da Hora traz uma composição dessa década mas regravada no Brasil dos anos 80.

A versão brazuca de Love Letters sucesso eternizado por Nat King Cole, chega na voz do rei Roberto Carlos. A composição original é de 1945, assinada Victor Young – somente música para o filme do mesmo nome e que no Brasil chegaria como ‘Um amor em cada vida’. Posteriormente, Edward Hennan daria letra.

A versão brasileira com o rei foi lançada em 1984. Três décadas depois, a geração praticamente não sabe o que é escrever cartas de amor – os aplicativos estão aí com modelitos prontos para agilizar o assunto, tudo expresso e no conforto dos cliques. Mas isso é outro papo, o que vale aqui é o romantismo do dia.

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