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21 de maio de 2024
QG Notícias

MÚSICA DA HORA: a voz do Brasil enquanto rola o Golpe de 1930

Voltando 91 anos na linha do tempo, estamos num Brasil fervilhando com o Golpe de 1930. Um País rachado pela política armada tendo como front Minas Gerais, Paraíba e Rio Grande do Sul. O presidente da República é Washington Luís, deposto hoje, 24 de outubro; presidente eleito, Júlio Prestes é impedido de tomar posse porque a República Velha estava sendo engolida pela Era Vargas.

As eleições aconteceram em 1º de março e Prestes foi o nome de São Paulo. Mas o jogo fica pesado contra ele, em 3 de outubro tem armação e golpe de estado o exila – único da história brasileira, eleito e impedido de tomar posse. O cenário estava sendo preparado para Getúlio Vargas.

Nesse ínterim, o Brasil tem vida tipo terrorista com atentados e chacinas políticas – até com deputado matando deputado. Quando Prestes foi eleito em 1º de março, era sábado de carnaval – ele bateu Getúlio por 1.091.709 votos contra 742.797. Certo, muita guerra quanto a esses números mas Prestes curtia a vitória e viajaria para os Estados Unidos em maio, posando foto com o presidente Herbert Hoover – e também para a capa da Time.

No entanto, ao retornar e ser recebido por multidão na Estação da Luz, o eleito vê a chapa ferver com deputados de todo país em confronto ainda sobre o resultado das urnas – e isso foi o foco da conspiração – revolução armada para o golpe importava milhares de armas da Tchecoslováquia que são distribuídas para milícias em todo território.

O drama nacional se agrava ainda mais com o assassinato de João Pessoa (presidente da Paraíba) em 26 de julho, em Recife. A militância de Getúlio Vargas já está armada até os dentes mas usa a propaganda ideológica como ataque – acusa o governo de São Paulo como mandante do assassinato de João Pessoa. O Brasil vive clima de guerra civil. A revolução começou no mês passado, 3 de outubro em Porto Alegre. Então chegamos neste 24 de outubro com as forças getulinas tomando conta, depondo o presidente Washington Luís para o novo governo provisório.

E A MÚSICA?

O glamour artístico que vemos não tem a ver com o cheiro de pólvora no ar. Muitas casas de shows, teatros lotados e espetáculos culturais bombando… ah, e futebol também. Claro, tudo isso com um fundo musical de primeira, romance e sagacidade dos compositores no ar.

E o que ouvimos nesse período tenso, além de conflitos e tiroteios? Curtimos o movimento Tropicália e vemos surgir a Era de Ouro da nossa música popular com samba, frevo, chorinho, música caipira e marchinha. Explodem compositores como Noel Rosa, Assis Valente, Dorival Caymmi, Ary Barroso, Wilson Batista, Ataulfo Alves, David Nasser, Haroldo Lobo…nas vozes de Francisco Alves, Orlando Silva, Sílvio Caldas, Mário Reis, Aurora Miranda, Carmem Miranda, Dircinha, Marília, Linda Batista…

Cantamos muitos sucessos tocados nos rádios chiquetosos, peça de destaque nas salas. E para curtir tudo isso ainda mais, bailões por toda Sampa – e quem não tem carro vai de bonde.

Vamos de música!

Desde 1917 rola um tal de Carinhoso, chorinho fora do contexto composto por Alfredo da Rocha Viana Filho. No círculo musical ele é o famoso Pixinguinha mas um tanto de banda com essa composição. E por que? Quando se fala em chorinho, a ordem é para obra em três partes – o Carinhoso de Pixinguinha tem duas. Composição de 1917 e na contramão da moda, era rejeitada mas causando mesmo em silêncio – e ficará assim até 1937, ganhando letra de Braguinha e explodindo.

Neste 24 de outubro de 1930, Pixinguinha tem 33 anos e alta celebridade. E nos próximos anos seguimos com ele e com todos outros grandes nomes da Era de Ouro, sons e vozes dentro desse cenário sangrento da nossa história. Mas aqui nós vamos de Carmem Miranda com o ‘Pra vocês gostar de mim’, sucessão deste ano turbulento com a pequena notável – mas tem a ver com Pixinguinha porque o arranjo é dele.

Com 35 mil cópias vendidas, recorde absoluto da nossa MPB e com o brasileiro cuidando de batizar a música com o refrão resumido – ninguém fala o título do original composto por Joubert de Carvalho, todo mundo diz ‘Taí’. Isso mesmo, é assim que a música ganha o Brasil nesse ano tenso de 1930.

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