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22 de novembro de 2024
QG Notícias

CT próprio e até ônibus: a era Nakid do futebol osasquense

Sabe aquele empresário que não está nem aí com politicagem no esporte e que batalha por conta própria por um ideal esportivo? Verdadeiro último moicano dessa linhagem de empreendedores, a lenda José Martinho Nakid perdeu o jogo contra o coronavírus no sábado.

Mas é claro, o mundo da bola é um mercado infiel e exige jogo de cintura, jogo esperto etc. O caso é que essa conta não fechava com Nakid, homem tipo xerife de Velho Oeste e que exigia tudo a limpo, nada de acertos por fora.

Enquanto ele pôde bancar, Osasco teve período grandioso no futebol profissional. Mas quando viu que corrupção esportiva era inimiga imbatível, deixou todo investimento para cuidar da vida como agrônomo em Sete Barras, região de Ribeira da Serra.

AS SETE BARRAS

Foi lá que Nakid construiria um império de laticínios – iniciou fazendo queijos e não demoraria para tornar-se marca entre as grandes do mercado de leite de búfalas do Brasil. Ele cresceu de forma espetacular, mas não sem fazer com que muitos outros empreendedores crescessem juntamente – principalmente os pequenos produtores.

Em Sete Barras, o nome Nakid está na empresa Levitare e a cidade chora a morte do empresário. No mais, o sucesso dele acaba tendo a ver com o nome do município – conta a lenda que um explorador espanhol enterrara sete barras de ouro à margem do rio Ribeira de Iguape.

Então, o nome fala de riqueza, de solo próspero. Esse tesouro escondido dá nome à cidade escolhida por Nakid após desiludir-se com o futebol em Osasco – ele não encontrou as barras de ouro do explorador espanhol mas fez brotar riqueza coletiva a partir de um panelão de queijo.

CT E ÔNIBUS PRÓPRIOS NOS ANOS 90?

Quando o estádio da Vila Yolanda e que hoje é explorado pelo rico Audax não era nada, o Monte Negro era a bola da vez. Fundado em maio de 1977, dois anos depois entraria no futebol profissional e para duas décadas de jogo. O Monte Negro surgia um ano após fechamento do Grêmio Água Branca, também clube empresarial de Osasco e que disputara a extinta Terceirona (2ª Divisão de hoje) – nessa linha velha guarda do futebol profissional, Osasco tem a Associação Atlética Floresta, a Associação Atlética Osasquense, o Independência Esporte Clube, o União Esportiva Rochdale.

Quando elevou o Monte Negro a campos profissionais, Nakid logo viu que daria socos em faca se fosse depender da política e não deu outra, comprou a briga para construção de um centro de treinamento na zona Norte. Quem hoje passa pela Rodoborges na Rua Edelzita Borges Batista, entre Quitaúna e Jardim Padroeira, vê logo abaixo o Rodoanel. Na época do visionário Nakid, o local era um grande vale (foto acima) que logo seria um clube com muitos associados sob a bandeira do Monte Negro.

Para os anos 90 e para um time da Segunda Divisão, o CT seria padrão Fifa. Por fim, Nakid compraria um ônibus para completar o status profissional do alvinegro. Certo, nada de redes sociais para divulgar tudo isso e, no mais, o empreendedor não fazia pose para aplausos – político pensava duas vezes antes de tentar falar com ele; pedir para Nakid ceder uma foto, outra missão dura.

Quem viveu esse período de profissionalismo do futebol osasquense é Adamastor Inácio, assessor do homem e que viveu o Monte Negro das quatro linhas aos bastidores. Numa época com a tecnologia do rádio ainda primitiva, havia a Difusora Oeste (atual Nova Difusora) levando equipamentos modestos para transmissão dos jogos – Adamastor Inácio também formava a equipe esportiva e conta que o presidente Nakid era por demais respeitado na Federação Paulista de Futebol. “Um cara seríssimo, tudo às claras e que valorizava o atleta e os diretores.”

“Foi numa reunião na FPF que eu o conheci. Ele me procurou ao saber que eu era da imprensa de Osasco. Falou do projeto e ali mesmo nós acertamos tudo”, completa Adamastor. Esse projeto duraria até 1992, quando Nakid vê que fincava bandeira no gelo. O fato é que Osasco não o merecia, tinha cabeça pequena demais para um homem de tamanha visão esportiva. Depois do Monte Negro, os clubes que surgiriam seriam sob acertos políticos.

A ÁGUIA CONTINUA

A partir do fechamento do Montenegro, a diretoria manteria a raiz no nascente Osasco Futebol Clube – a Águia, símbolo do clube de Nakid, voava para o escudo do recém-criado Tricolor; e continua voando hoje, mesmo após a extinção do Osasco FC.

Em 2020 o clube foi comprado pelo pentacampeão Edmílson de Moraes, que tem um grande projeto em Santana de Parnaíba. Guardadas as devidas proporções, esse projeto lembra o de José Martinho Nakid – tal qual o lendário empreendedor, o penta investe por conta, nada de atrelo político e com um CT cinco estrelas para a 2ª Divisão.

A Águia de agora ganha traços estilizados no escudo do Ska Brasil, seguindo voo desde o velho clube de Nakid, passando pelo Osasco FC e para novos ares no time do penta que está no apronto para a 2ª Divisão. Certo, Nakid se foi mas o voo da Águia segue. No mês que vem ele completaria 84 anos.

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