Faz de conta que 135 anos atrás o brasileiro se mobilizava contra o império por um regime popular; faz de conta que a Proclamação da República represente essa luta de classes tipo conquista do povo e para o povo; faz de conta que a história contada seja testemunha fiel da História.
Mas não, há controvérsias. Primeiro, que o marechal herói da proclamação era da corte e amigão do imperador; que ele acabou sendo envolvido numa rede de mentiras, fakes político-militar; e que Deodoro da Fonseca não estava nem aí com nada disso mas que acabou entrando por rixa pessoal – e por causa de uma mulher.
Há um livro sobre essa verdade fora da curva. Autoria de Laurentino Gomes, ‘1889’ expõe o que a história não conta – rinha extrema entre o marechal da República e um senador. Deodoro era presidente do Conselho de Ministro da corte quando ouviu boatos que seria preso, ordem do Visconde de Ouro Preto que era Afonso Celso de Assis Figueiredo.
O movimento republicano alimentava articulação por golpe e tinha grana dos cafeicultores para isso. Com D. Pedro II idoso, a princesa Isabel era vista como ameaça letal como herdeira. Sim, num Brasil absolutamente machista, impensável uma mulher no trono.
No mais, a princesa tinha trololó com o conde francês D´Eu e os republicanos se mordiam de inveja – e nem é preciso dizer do caos que ela causou um ano antes com a Lei Áurea. Então, motivo mais que justo para extirpar o império e banir esse perigo feminino.
D. Pedro rompera reformas no governo em 1889 e o visconde de Ouro Preto assumira a função em junho – o objetivo dele era, também, dar segurança à transição do trono. E o que ele fez? Dissolveu a nata do Exército por todo império, transferiu comandantes e passou a valorizar a polícia e a Guarda Nacional; criou a Guarda Cívica e provocou de vez os aristocratas brancos ao criar a Guarda Negra – formada por ex-escravos.
O generalato não se calou e começou a articular fakes – a principal mentira, que Ouro Preto iria extinguir o Exército. Isso fomentou a revolta militar até o golpe de 15 de novembro. As ruas foram tomadas pelo Exército, nada de povo e, óbvio, o primeiro ato do golpe foi depor Ouro Preto. E por que as forças imperiais não partiram em defesa da corte? O comandante era Floriano Peixoto que justificaria a decisão: não poderia lutar contra brasileiros.
A MULHER
O livro ‘1988’ detalha que uma diva gaúcha foi o real motivo que levou Deodoro da Fonseca ao golpe militar – ele se apaixonara perdidamente pela baronesa do Triunfo, uma viúva de beleza estonteante. Ela morava em Rio Pardo, filha do general e barão Andrade Neves. Estamos no início dos anos 1880 quando Deodoro assume o comando do Exército naquela província e cai de paixão.
No entanto, logo ele fica sabendo de um galanteador aos pés da diva, o senador Gaspar Silveira Martins. O livro de Laurentino detalha que o político deu um jeito de quebrar a perna para ficar sob cuidados da baronesa. Sim, ele já era próximo da viúva e esse dodói foi a cerejinha para o xeque-mate.
Deodoro ficou pê da vida e inimigo declarado do político, ódio mortal. Anos se passaram e ele acumulando a dor da desilusão e do ciúme. O nome da baronesa ficaria oculto da história até Laurentino Gomes (ilustração do livro 1889) – a diva era Maria Adelaide de Andrade Neves Meireles.
MARECHAL x SENADOR
De volta a 1889, Deodoro via-se rodeado de republicanos aliciadores e já estava de todo crente na fake que Ouro Preto extinguiria o Exército e que teria despachado ordem de prisão; mas o marechal era monarquista até debaixo d´água e nada disso o afetava na real… até ele ouvir o nome daquele político que lhe roubara a baronesa.
Isso mesmo, em 1889 e naquele calor de revolta ele fica sabendo (outra fake?) que aquele senador da diva gaúcha assumiria alto escalão da corte imperial como Ministro-Chefe. Então é sangue nos olhos do marechal que entraria de cabeça no golpe. Sim, hora da vingança. E lá se vão 135 anos…
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