Vizinhos e em quadras opostas no gerenciamento. De um lado o gigante Osasco Vôlei, único campeão mundial e soberano nas quadras brasileiras; vem do décimo sétimo título paulista e no apronto para entrar forte na Superliga. Coladinho está o Barueri Vôlei, equipe que conquista o Brasil mesmo sem galeria de troféus e com apenas cinco anos de projeto.
Enquanto Osasco segue entre as potências do vôlei, o vizinho humilde vai na raça e tentando sobreviver temporada a temporada – e não fosse a assinatura do técnico José Roberto nessa história, nada de vôlei em Barueri. Então, qual a diferença entre as equipes nas duas cidades vizinhas?
O início da modalidade em Osasco (1996) foi absolutamente empresarial com o Bradesco via BCN; depois seria Finasa e para sair de cena em 2009. Nessa época, Luizomar de Moura já era técnico e em lugar do já citado José Roberto Guimarães. Mas foi a partir da saída do Bradesco que o treinador entrou na escolinha de gerência – o vôlei estava condenado em Osasco e Luizomar faria estreia como administrador.
Até então muito de boa com o banco cuidando de tudo, em 2009 ele via o projeto indo para o ralo. Para segurar o jogo, o técnico veste a cartola e passa a sacar nos bastidores da política. Nesse ano o prefeito é Emidio de Souza e compra a causa – junto com o próprio Bradesco (aqui traduzido por Mário Teixeira, hoje no futebol e, na época, um dos generais do banco), consegue amparo emergencial e Luizomar respira com ajuda ‘por fora’. O jogo segue.
Mário Teixeira e o prefeito Emidio garantiram sustentação do projeto daquele abril até setembro, quando a poderosa Nestlé entra na camisa de Osasco como Sollys – por coincidência, a multinacional era uma das principais clientes do Bradesco. E foi assim que Luizomar se lançou no mundo da cartolagem, rapidamente aprendendo a usar ferramentas políticas para ser tornar um gerente esportivo de sucesso.
Mas ele teria outra prova de fogo: em 2018 reviveria o estado de abandono de 2009 e também num mês de abril: a grande Nestlé anuncia fim de parceria e coloca o vôlei de Osasco novamente na rua. Então, vemos o técnico Luizomar em replay de agonia. No entanto, dessa vez ele já está bem articulado politicamente para tabelar em alto nível com a prefeitura. Mas dentro desse jogo político, quem salvaria a pátria? O Audax, clube de futebol. E quem é dono do Audax? Aquele mesmo Mário Teixeira que segurara a barra em 2009.
Luizomar costurou muito bem o tricô, o jogo segue e hoje com patrocínios grandes, inclusive com o próprio Bradesco no Liberatão de Presidente Altino – começou em modo empresarial e hoje é uma ferramenta política. O alto comando municipal marca ponto nessa quadra e esteve na festa do 17º título paulista. Sinal desse condicionamento do vôlei está na fala da oposto trans logo após a conquista do título ao exaltar o poder público de Osasco.
E BARUERI?
José Roberto Guimarães tem um perfil tipo zen, muito discreto mas sem ser sombra de ninguém. Ele tem um centro de treinamento cinco estrelas em Barueri e sempre hospeda confederações de várias modalidades. A partir desse CT luxuoso ele lançou equipe própria e hoje é exaltado no comando das novinhas.
Mas há outro diferencial nesse projeto de José Roberto com o de Luizomar de Moura: em Osasco só tem o time profissional; em Barueri há equipes de base e que disputam todas categorias da Federação Paulista. Nesse quesito, o vôlei de Barueri humilha o vizinho. E mais: diferente de Luizomar, José Roberto não é político e nem faz tipo para tal.
Usa o Correão de Barueri mas poderia estar jogando em Santana de Parnaíba e seria o mesmo para ele. E o poder público de Barueri também fica na dele, não aparece na foto. A explicação para isso é que José Roberto é um executivo do vôlei, quer aportes na camisa mas sem unção política. Tanto que desde o ano passado vem repetindo que está quase chegando ao limite do possível com esse projeto pessoal.
Dificilmente ele ficará sem patrocínio e está para ser abraçado por uma grande marca – a Superliga está chegando e Barueri deverá ter esse máster na camisa. Mas o que fica nessa delicada comparação com Osasco é o caminho particular de José Roberto Guimarães fazendo um vôlei exclusivo e independente.