Estamos em 1968. O compositor Geraldo Vandré está com 33 anos e incomodando Brasília e todos quarteis do País. Paraibano de João Pessoa, ele chega com a música da vez na final do Festival Internacional da Canção no Maracanãzinho. Dois anos atrás e no Festival da Música Popular Brasileira, fora finalista na voz de Jair Rodrigues com Disparada, composição em parceria com Théo de Barros.
Enquanto todos aplaudem Geraldo Vandré na Globo, o governo militar vasculha por Geraldo Pedrosa de Araújo Dias e responsável por esse sucesso que inflama o País. “Pra não dizer que não falei das flores” terminaria em segundo lugar. E foi a gota. Alguns dizem que o impacto foi tamanho que o governo teria antecipado o fabuloso AI-5. Sim, esse segundo lugar gerou protestos – Chico Buarque e Tom Jobim eram vaiados com o vencedor ‘Sabiá’, e ouvia-se que o resultado teria sido determinado pelos militares.
Investigando o cidadão, a inteligência do governo vê que Geraldo Vandré vem de militância estudantil desde a Universidade do Estado da Guanabara com o Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes. Na sequência disso, o cantor deixa o País e para um silêncio absurdo. Avançando a linha do tempo até 2010, vemos entrevista com ele isentando as Forças Armadas e a ditadura, garantindo que nunca sofreu tortura e que se afastou da música por falta de motivação – e criticando duramente o nível cultural do Brasil.
De volta a este 7 de novembro de 1968, vemos o compositor se camuflando porque a repercussão de ‘Pra não dizer que não falei das flores’ encabeça a lista da censura e Geraldo Vandré sente o perigo – dá um perdido geral até conseguir cruzar fronteira rumo ao Chile, de onde seguiria romaria para Peru, Argélia, Alemanha, Grécia, Áustria, Bulgária e França, retornando absolutamente quieto em 1973.
Nesse retorno, cairia nos braços militares compondo Fabiana em homenagem à Força Aérea Brasileira. Trabalhando como advogado, voltaria a se apresentar em 1983 num show no Paraguai e, em março de 1995 no Memorial da América Latina, evento do IV Comando Aéreo Regional em comemoração à Semana da Asa – e foi quando um coral de cadetes lançava ‘Fabiana’.
Vandré está com 86 anos festejados em 12 de setembro e a música que sacudiu o Brasil tem 53 anos de história. Mas uma coisa é fato – de um lado o povão na fúria contra o sistema, de outro lado um compositor assustado com tamanha onda e que diria posteriormente: “Eu não faço canção de protesto; eu faço, fazia, música brasileira, canções brasileiras.”
Fechando sobre o AI-5, este Ato Institucional chegaria de vez em dezembro. Lembrando, estamos com Geraldo Vandré após o estouro no III Festival Internacional da Canção Popular no Maracanãzinho com transmissão da Globo. Por consequência, outras celebridades nesse primeiro fio da navalha: Caetano, Gilberto Gil, Chico Buarque, Augusto Boal, Glauber Rocha. Como já foi dito quanto a nossa Música da Hora, o coturno da censura chegara antes, neste 7 de novembro de 1968.
Na foto acima, ministro Gama e Silva é o da esquerda, durante anúncio do AI-5 em cadeia de rádio e televisão. O nosso presidente é o general Costa e Silva, o segundo do regime e que assumiu ano passado. Mas em março do próximo ano, 1969, ele sofrerá derrame para ir a óbito meses depois e quem assumirá é o general Emílio Garrastazu Médici.