Além de participar da II Guerra Mundial, o Brasil contribuiu ostensivamente na propaganda militar sob patrocínio dos Estados Unidos. Lenda do rádio brasileiro, O Repórter Esso é reverenciado como modelo de gestão e de pauta. Lançado neste 28 de agosto mas em 1941, chegava à sombra da versão original americana Your Esso Reporter.
Patrocinado pela Starndard Oil New Jersey via Standard Oil Company of Brazil, o programa marcaria gerações e a história da mídia nacional. Deixando o romantismo de lado, programa chegava absolutamente condicionado ao coturno americano – como assessor de imprensa militar dos EUA.
Quando o Brasil entrou na batalha, por exemplo, a pauta de O Repórter Esso proibia divulgar porque só era permitido falar das armas americanas. Sim, nenhuma outra notícia global que não fosse do interesse de Washington. A agência de notícias McCann-Erickson formatava o programa com pautas da United Press Associations. No mais, o noticiário estava no ar desde 1935 nos EUA.
O governo americano investia na Good Neighbor Policy (Política da Boa Vizinhança) na década de 30 e quando estouro a guerra, essa política pesou na América Latina. Sim, o Esso chegaria como pacote ideológico dos Estados Unidos. Isso á parte, o formato ditaria as regras futuras da mídia com o lide (usual na imprensa que indica objetividade num texto curto).
Preparando o lançamento do programa nesse 28 de agosto, representantes do Birô Interamericano faziam um cerco ideológico no País, grupo criado pelo próprio presidente Franklin Delano Roosevelt – o Esso deveria ser uma cartilha de educação na América Latina e o Brasil entrava como carro-chefe.
Os EUA já trabalhavam em várias mídias impressas, havia também a Voice of America. Por fim, entraria Walt Disney criando personagens latinos para dar nó nesse laço de aculturamento americano. O Brasil era governado por Getúlio Vargas e sob o Estado Novo (de 1937) que tinha alguma inspiração no nazi-fascismo – Vargas deixaria o poder em 1945 para retornar cinco anos depois e para terceira gestão.
Sobre a década de 40 e quando o Esso chegava, o Brasil contava pouco mais de cem emissoras de rádio. A investida americana nessas ondas era front direto contra campanha de mídia que o nazismo já fazia com sucesso desde os anos 30.
Nessa década o Brasil era iniciante quanto a mídia de massa. Mas o governo acorda para a importância disso e cria o Departamento de Propaganda e Difusão Cultural, que depois seria Departamento de Imprensa e Propaganda e que lançaria a Hora do Brasil. Quando Vargas impõe o Estado Novo em1937, tem a mídia nas mãos. Um ano antes de o Esso chegar, a Rádio Tupi falava da guerra em ondas curtas via CBS, NBC e da britânica BBC – transmissões em português.
Os EUA cravam o programa no Brasil com monopólio da United Press e para conteúdo exclusivo. Sim, o Esso era tremenda arma de guerra americana.
BOM VIZINHO
Com o Estado Novo, o Brasil se aproximava muito da linha nazista e os Estados Unidos agiriam rapidamente abrindo o cofre para benefícios múltiplos e milionários. Quando o Esso estreia na Rádio Nacional, selava esse pacto político.
A Nacional (PRE-8) surgira do Rádio Phillips do Brasil, de um grupo holandês que fabricava aparelhos; e antes de O Repórter Esso, a empresa patrocinava a rádio desde 1939 com o Variedades Esso. Quantos aos locutores, o patrocinador contrataria os melhores – Rubens Amaral, Celso Guimarães, Romeu Fernandes, Saint-Clair Lopes e Heron Domingues.
O Esso não era programa musical mas, é claro, o som nacional fazia e acontecia em 1941 com Carlos Galhardo, Francisco Alves, Dorival Caymmi, Silvio Caldas, Ataulfo Alves, Linda Batista, Carmen Miranda, Orlando Silva, Aracy de Almeida, Moreira da Silva, Cyro Monteiro, Vicente Celestino, Heleninha Costa, Odete Amaral, Isaura Garcia…
O Brasil tinha um Q de nacionalismo ideológico e rodou censura forte patrulhando as gravadoras. Na chegada do Esso, o brasileiro ainda samba O Bonde de São Januário, gravado um ano antes por Cyro Monteiro. E por que ouvir esse batuque agora?
Composição de Ataulfo Alves e Wilson Miranda, o Bonde exalta a malandragem e a boemia que batia contra a bandeira Ordem e Progresso. Com o tutorial do governo americano em O Repórter Esso, o governo brasileiro fortalece a linha dura e a censura pesa – o samba fala de São Januário, bairro industrial do Rio e, por isso, bondinho lotado de trabalhadores todo dia.
Aí é que está a pegada: a letra original cantava que o bonde leva ‘mais um otário’; a censura de Vargas prende a letra e exige correção e, então, ouvimos que o bonde de São Januário leva ‘mais um operário’. Eis o gargalo apertado nesse período brasileiro – um samba da malandragem travestido de serviçal.
Sobre Cyro Monteiro, natural do Rio em maio de 1913, o apelido era Formigão – para Vinícius de Moraes, o maior cantor do Brasil. Com cirrose agressiva, Cyro morreu em julho de 1973 aos 60 anos e está sepultado no Cemitério de São João Batista.
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