Tim-tim por todo país. O vinho português é um dos tesouros da humanidade e hoje tem dia celebrado, taças cheias desde 2004 e para um domingo sem hora para terminar. Que essa delícia faz parte do prazer secular desde sempre todo mundo sabe, como também sabe que Portugal é berço esplêndido dessa taça.
Então, a Associação de Municípios Portugueses do Vinho e a ViniPortugual fecharam o primeiro domingo de julho para celebração. Bebida dos deuses e que faz parte da mesa bíblica – a rota do vinho vem desde as primeiras festanças até a ortodoxia cristã chamada Santa Ceia.
Vinho é arte e deve ser apreciado à altura. Nesse quesito, os portugueses são mestres e hoje fazem a festa de Norte a Sul. Aliás, Viana do Castelo é chamada Cidade do Vinho desde 2011. A coisa é mesmo séria em Portugal, tanto que há concurso Rainha das Vindimas.
Outros municípios se destacam nos brindes, além de Viana do Castelo: Azambuja, Beja, Cartaxo, Oeiras, Ourém, Palmela e Setúbal. Mas a capital também faz parte e abre garrafas de todas regiões para degustação na Sala Ogival de Lisboa. Então, Portugal vive um dia com quintas, adegas e municípios brindando o fruto da vide. Claro, muita cultura no entorno da garrafa e muita música – como a que segue.
SENHOR VINHO
‘Oiça lá, ó Senhor Vinho’ é energia pura na voz de Mariza, natural de Lourenço Marques (hoje, Maputo) em Moçambique. Ela tem 48 anos e também manda muito no fado e com muita estrada na world music. É uma das vozes portuguesas mais aplaudidas – o britânico The Guardian grifou que é uma diva da música mundial. A moça tem mais de um milhão de discos rodando todo o mundo – em Portugal está entre as que mais vendem.
Marisa dos Reis Nunes é filha de pai português e de mãe moçambicana (José Brandão e Isabel Nunes), tinha três aninhos quando a família desembarcou em Lisboa. O pai deixou uma empresa holandesa em Moçambique para abrir um restaurante em Mouraria, bairro da capital. Berço do fado, era point de celebridades da música nativa – e foi nessa boemia que Marisa, aos 7 aninhos, começou a soltar a voz (mas já vinha estudando e cantando fado desde os cinco).
Português original e português do Brasil têm diferenças notáveis e, para facilitar ao abrir essa garrafa, colamos a letra cantada por Marisa. Então, brindando o dia com Portugal, hora de soltar o som – composição de Alberto Failho Janes. Mas antes desse tim-tim, vale dizer que há versão brasileira do Dia Nacional do Vinho – 1º de junho. E Portugal tem tudo a ver porque foi o explorador Brás Cubas o primeiro vinicultor por aqui em 1532. Claro, mudas trazidas de lá.
OIÇA LÁ, SENHOR VINHO
Oiça lá, ó senhor vinho
Vai responder-me, mas com franqueza
Porque é que tira toda a firmeza
A quem encontra no seu caminho?
Lá por beber um copinho a mais
Até pessoas pacatas
Amigo vinho, em desalinho
Vossa mercê faz andar de gatas
É mau procedimento
E há intenção naquilo que faz
Entra-se em desequilíbrio
Não há equilíbrio que seja capaz
As leis da física falham
E a vertical de qualquer lugar
Oscila sem se deter
E deixa de ser perpendicular
Eu já fui, responde o vinho
A folha solta a brincar ao vento
Fui raio de sol do firmamento
Que trouxe à uva doce carinho
Ainda guardo o calor do sol
E assim eu até dou vida
Aumento o valor seja de quem for
Na boa conta, peso e medida
E só faço mal a quem
Me julga ninguém e faz pouco de mim
Quem me trata como água, é ofensa
Pago-a, eu cá sou assim
Vossa mercê tem razão
É ingratidão falar mal do vinho
E a provar o que digo
Vamos, meu amigo, a mais um copinho
Vossa mercê tem razão
É ingratidão falar mal do vinho
E a provar aquilo que digo
Vamos, amigo, a mais um copinho
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