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28 de abril de 2024
QG Notícias

MÚSICA DA HORA: a voz da MPB até Tancredo Neves, 38 anos atrás

Não foi por eleição direta mas marcou o fim do presidencialismo militar no Brasil. Há 38 anos o Colégio Eleitoral selava vitória de Tancredo Neves sobre Paulo Maluf por 480 votos a 180. O último general no poder, João Batista de Oliveira Figueiredo, assumira a faixa presidencial em 1979 quando o Brasil ainda estava se recompondo da Lei de Segurança Nacional imposta no ano anterior por Ernesto Geisel que, por outro lado, aboliria o temido AI 5 e encaminharia a Anistia.

Marcando virada política, a década de 80 chega com o povo sedento por eleições diretas. Um movimento civil gigantesco arvora essa bandeira e o desejo eleitoral se transformaria no gatilho Diretas Já. Tancredo eleito, não tomaria posse por causa do estado de saúde grave – óbito em 21 de abril de 1985 aos 75 anos. No mês anterior, o vice José Sarney assumira a presidência.

FIGUEIREDO x BOLSONARO

Um fato em comum na passagem da faixa presidencial nessa história: o então presidente Figueiredo não compareceu para entregá-la a José Sarney – quem fez as honras no cerimonial foi Gervázio Batista, fotógrafo oficial do Palácio do Planalto.

E por que o general não foi? Porque o empossado não estaria recebendo a faixa como presidente eleito mas como substituto. Isso mesmo, não se tratava de um sucessor legítimo e, por isso, o protocolo dispensava a presença de Figueiredo.

Na recente posse do presidente José Inácio da Silva, o anterior não compareceu para a cerimônia. Então, Jair Bolsonaro atualiza a versão Figueiredo mas sem justificativa legal como teve o general. No remake de agora, o capitão não compareceu em 2023 por birra política, por não reconhecer a derrota.

VAMOS DE MÚSICA

Mas estamos falando das Direta Já e que Tancredo Neves era eleito primeiro presidente civil 38 anos atrás, ainda que pelo voto do colegiado. História contemporânea que está aí para contar e também para cantar – sim, essa revolução democrática deu-se ao som da Música Popular Brasileira.

Desde meados dos anos 70 que a MPB cutucava o regime militar que imperou de 1964 a 85. Além de canções históricas, os artistas compareciam em reuniões políticas e militavam pelo fim da ditadura. Em 1976, por exemplo, Chico Buarque lançava ‘Meus caros amigos’, título do álbum que tinha ‘Meu caro amigo’ na última faixa. Antes, o cantor e compositor já badalava sinos de alerta com Roda viva (1968), Apesar de você (1970) e Construção (1971).

Nessa época (76), Fagner usava uma estrela no boné, entendida como referência ao revolucionário Che Guevara; no Teatro Bandeirantes, a extraordinária Elis Regina cantava Falso Brilhante. Sim, os artistas eram politicamente engajados: Simone surgia cantando Chico Buarque, Milton Nascimento bombava o álbum ‘Clube da Esquina 2’ (1978); Caetano Veloso chegava com ‘Sampa’.

O regime militar atuava duro para se manter enquanto o clamor por eleições diretas se acentuava. No início da década de 80 as vozes do Brasil ganhavam mais força com militantes como Ivan Lins, Sá & Guarabira e Amelinha em ações com estudantes.

Um show em São Bernardo do Campo reuniria grandes celebridades e, claro, tudo muito bem vigiado pelo Departamento de Ordem Política e Social, o Deops – Ciro Braga, Gonzaguinha, João do Vale, MPB 4, Clara Nunes, Belchior e Caetano.

Fafá de Belém seria um ícone nessa interpretação e entrou em 1980 com o álbum ‘Crença’; Elis também chegava com novidade, o disco ‘Saudade do Brasil’; o ano teria ainda Gal Costa com ‘Aquarela do Brasil’ e o MPB 4 arrebentando com o ‘Vira virou’. Elba Ramalho, Pepeu e Baby Consuelo também seriam muito aplaudidos.

Em 1983, dois slogans fermentavam o povão nos comícios: ‘Sem eleição direta não há democracia’ e ‘Quero votar pra presidente’ . No aniversário de São Paulo, reunião gigantesca na Praça da Sé com Moraes Moreira, Jessé, Sérgio Ricardo, Belchior, Martinho da Vila, Chico, Alceu Valença, Gilberto Gil, Simone…

Em abril de 1984 na Candelária, um comício ainda maior com Fafá de Belém, Chico, Lecy Brandão, Fagner, Taiguara, João Bosco, Zezé Motta, Beth Carvalho, Martinho da Vila, Erasmo Carlos, Milton Nascimento, Baby Consuelo, Pepeu Gomes, Maria Bethânia, Ney Matogrosso, Moraes Moreira e Paulinho da Viola. Cabe falar de Lecy Brandão cantando uma rima do Caprichosos de Pilares: “Salomé, Salomé, bate um fio pro João, que indiretas não dá pé.”

NOSSA MÚSICA

O som que segue chega na voz de Fafá de Belém, paraense chamada de ‘menestrel das Diretas’. Ela gravara ‘Menestrel das Alagoas’ em homenagem ao senador Teotônio Vilela, canção que acabou tipo referência do movimento de então.

Naquele comício monstro na Candelária, Fafá mandou ver numa interpretação espetacular. Por fim, essa canção também seria chamada de marselhesa brasileira. Quando da eleição de Tancredo que faria ecoar a Nova República, a voz de Fafá chegava junto.

Composição de Milton Nascimento e Fernando Brant, ‘Menestrel das Alagoas’, homenageia o senador Teotônio Vilela e seria adotada tipo bandeira do Diretas Já, que teria primeiro round vencido com o fim do generalato na eleição de Tancredo Neves nesse 15 de janeiro em 1985.

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