Grupos evangélicos enfileiram-se contra obra da escultora chinesa Huáng Jiàn à COP30 em Belém – uma escultura singular, presente da China ao Brasil e dentro da temática sobre Mudanças Climáticas.
“É o capeta!”, dizem grupos religiosos que identificaram na nova obra da escultora chinesa Huáng Jiàn um suposto símbolo demoníaco. O presente diplomático, criado no contexto da agenda climática, vira alvo de segmentos evangélicos mais mobilizados politicamente, que associam a figura do dragão às profecias apocalípticas e, por extensão, à ideia de ameaça espiritual.
Huáng Jiàn é artista consagrada e assina peças para seis Jogos Olímpicos seguidos – daí ser celebrada como Embaixadora do Comitê Olímpico Internacional.
O trabalho da escultora é voltado para a vida e ela explica que isso tem a ver com o próprio nome: “Meu pai me deu esse nome porque significa bem-estar”.
Ela também é estilista, designer de móveis, interiores, paisagista e ilustradora; na China há mais de cem obras magistrais dela e que a colocam entre as melhores escultoras do mundo.
“Expressar a força e a beleza do esporte é um atributo fundamental das esculturas olímpicas, mas meu conceito mais importante é usar a arte cultural para conectar amizades entre países”, diz Huáng Jiàn.
E segue: “Quando crio essas obras, não as represento simplesmente com figuras chinesas famosas; isso seria visto como invasão cultural. Devemos ter alguma conexão com os outros, para que todos se sintam mais próximos e conectados.”
OBRA DO DEMÔNIO
A reação, amplificada por páginas ligadas à direita religiosa, baseia-se sobretudo na origem da artista e no elemento mítico oriental presente na peça.
O dragão, na tradição chinesa, representa prosperidade, força vital e sabedoria — exatamente o contrário do símbolo maligno conhecido no imaginário cristão ocidental. Essa diferença cultural transformou uma obra diplomática em alvo de interpretações sobrenaturais dentro dessas alas religiosas.
Para esses grupos, a peça é um portal do inferno que se abre no Brasil e, por conta disso, alinham narrativas para despertar o país contra ameaça espiritual.
A OBRA
A escultura de Huáng Jiàn é uma arte de sabedoria e que, segundo ela mesma explicou, une um símbolo histórico da China com um símbolo nativo do Brasil.
A COP30 trabalha a problemática ambiental e, então, a escultora traz o mítico dragão chinês abrasileirado com a onça, representando a união dos países na agenda climática.
A obra é talhada em bronze e batizada “Espírito Guardião Dragão-Onça’; há outra peça de Huáng Jiàn para a COP30 na Praça da Bandeira, área da Freezone Cultural Action, a “Mãe Brasil” – uma mulher sobre uma vitória-régia. Mas como a Mãe Brasil não apresenta nada da China, então os atacantes evangélicos ignoram – talvez também ignorem que seja de Huáng Jiàn).
Quanto ao Dragão-Onça, não há conteúdo enigmático, mensagem subliminar ou referência religiosa: trata-se de uma obra simbólica sobre união, vida e diálogo entre povos — uma marca constante na trajetória de Huáng Jiàn, artista que se define como construtora de pontes culturais.
