11 de outubro de 2025
O Sonho Americano estreia em Osasco, peça ambienta no regime militar do Brasil em 1970.

OSASCO: ‘O Sonho Americano’ em 1970 à luz do Brasil hoje

Osasco abre cortinas para O Sonho Americano, peça que vive o auge da ditadura militar no Brasil de 1970. O drama põe em colisão uma jovem universitária com pós-graduação aprovada em Harvard e o primo subversivo, fugitivo da caçada militar.

O Sonho Americano tem assinatura da Cia. Teatro dos Ventos, duração de 90 minutos e estreia em 5 de setembro no Teatro Nivaldo Santana que fica na Escola de Artes César Antônio Salvi.

Se a peça tem fundo militar, o teatro fica na Rua Tenente Avelar Pires de Azevedo, 360. Até 1959 era Rua Brumado e recebeu o nome atual em outubro daquele ano, projeto assinado por Hirant Sanazar quando vereador em São Paulo e representando o distrito Osasco.

Três anos depois desse projeto, tensos movimentos políticos resultaram em Osasco elevado à cidade e com Hirant Sanazar primeiro prefeito. Isso foi em 1962, período preliminar ao golpe militar.

Quanto ao tenente Pires de Azevedo, o então vereador Hirant Sanazar justificava que era um militar exemplar da Força Pública, companheiro de militância no Partido Trabalhista Nacional e com muitos serviços prestados à comunidade do bairro osasquense.

Então, o militar não tem nada a ver com outros fardados que são homenageados em logradouros, praças e viadutos de Osasco, todos ligados à ditadura que pesou sobre a nova cidade, intervenção militar que resultou na prisão do prefeito Hirant Sanazar.

Quando o Brasil levantava o tricampeonato mundial na Copa de 1970 no México, o coturno fazia tremer o território nacional. Anos de sangria com o regime militar caçando e matando em nome das cores verde e amarelo.

Essas mesmas cores são as que pintam hoje o exaltado movimento que cultua o ex-presidente Jair Bolsonaro como messias a resgatar o regime militar – o bolsonarimo quer de volta o militarismo ao comando do País.

O Sonho Americano situa o ambiente sob a ditadura dos anos 70 e abre cortinas para o cenário de agora, quando extremistas de direita invadem os Três Poderes, empunham a bandeira dos Estados Unidos na Câmara dos Deputados, no Congresso e clamam pelo bolsonarismo.

O que o governo americano faz agora contra o Brasil não é novidade histórica. Quando do golpe de 64, os EUA foram aliados decisivos para que as Forças Armadas tomassem Brasília.

Havia dois protocolos que credenciavam o golpe – a Doutrina de Segurança Nacional e a Operação Condor. A DSN atuava ostensivamente na Guerra Fria e, no Brasil, foi adotada pela Escola Superior de Guerra.

Quais pontos de combate da Doutrina de Segurança Nacional? O foco era brutalmente interno: qualquer cidadão poderia ser um possível inimigo do estado e filtrava estudantes, sindicalistas, artistas, jornalistas mais opositores políticos.

Com roupagem militar, a DNS justificou a caça ideológica de repressão no Brasil de 1964 a 1985. Então, como a peça O Sonho Americano está ambientada em 1970, retrata com detalhes como eram as coisas.

A Operação Condor, também bancada pelos Estados Unidos, era um tipo de aliança secreta com Forças Armadas não só do Brasil mas de outros da América do Sul como Argentina, Chile, Uruguai, Paraguai e Bolívia.

Esse eixo de extrema direita vasculhava fronteiras, afunilava o cerco de vigilância e caça aos subversivos em fuga. A Condor foi operação ultramilitar de grande valia ao regime no Brasil facilitando prisões, sequestros, torturas e execuções.

🔹 Doutrina de Segurança Nacional (DSN)
Formulada nos EUA durante a Guerra Fria e adotada no Brasil pelos militares a partir de 1964, a DSN redefinia a noção de “inimigo”: cidadãos considerados subversivos.

🔹 Operação Condor
Articulação secreta entre regimes militares da América do Sul com apoio dos EUA, criada para perseguir, sequestrar e eliminar opositores políticos além das fronteiras. A cooperação envolvia troca de informações, prisões conjuntas e assassinatos em rede.

📚 Para saber mais:

Se nos anos 1970 a Doutrina de Segurança Nacional e a Operação Condor serviam de justificativa para Washington interferir no Brasil e na América Latina, hoje o cenário é outro, mas a lógica da pressão permanece. O governo Donald Trump, que mantém alianças explícitas com Jair Bolsonaro e setores da extrema direita brasileira, voltou-se contra a política digital e financeira do Brasil, com o PIX como alvo central.

Enquanto o Banco Central brasileiro impulsiona a digitalização financeira de forma pública e gratuita, os EUA enxergam ameaça ao domínio de suas big techs e carteiras digitais privadas. A reação é política: Trump e aliados têm transformado o bolsonarismo em vitrine internacional de perseguição, acusando o Supremo Tribunal Federal de ser um órgão autoritário e opressor.

Esse discurso se conecta ao mesmo imaginário da Guerra Fria, quando opositores eram tachados de inimigos do Estado. A diferença é que agora a narrativa é invertida: o bolsonarismo se apresenta como vítima de um suposto STF ditatorial, enquanto o trumpismo reforça essa leitura para fragilizar a democracia brasileira e pavimentar o caminho às eleições de 2026.

Sinopse (texto da produção, na íntegra)
O Sonho Americano é ambientada no início dos anos de 1970, no Brasil, no auge do endurecimento da ditadura militar. Na história conta a história de Beatriz, uma jovem de classe média baixa que vive com sua mãe. Seu cotidiano é de muito esforço e falta de perspectivas. Por isso, tenta uma vaga em uma pós-graduação em Harvard. Numa noite, recebe a visita de Bento, seu primo. O rapaz é recém ingresso na luta armada, todavia, fracassa em sua primeira atuação contra a repressão e por isso precisa de um lugar para passar a noite até que seu grupo possa organizar sua fuga.

Bento e Beatriz cresceram muito próximos, como se fossem irmãos. É por isso que mesmo que chegando inesperadamente e numa situação tão delicada, é muito bem recebido pela prima e pela tia. As horas que passam juntos servem como um mergulho em memórias de família, conversas acerca da ditadura e expectativas para o futuro do Brasil. Mas, em algum momento, Beatriz recebe a informação de que foi aprovada para a pós-graduação em Harvard, e então tudo muda. Ela teme que a presença de um “subversivo” em sua casa possa prejudicá-la, e por isso, torna-se capaz de tudo para defender sua viagem aos Estados Unidos, o seu sonho Americano.

Elenco
Arthur Soares
Camila Costa Melo
Cris Bordin
Flávio Passos
Gabriel Santana 
Ruben Pignatari
Texto e direção
Luiz Carlos Checchia
Produção
Camila Costa Melo
Luiz Carlos Checchia
Lavínia Fernandes
Realização
Cia. Teatro dos Ventos
Quando
– sábados e domingos
– de 5 a 28 de setembro
– Teatro Nivaldo Santana
– Rua Tenente Avelar Pires de Azevedo, 360
Extras
– de 3 a 5 de outubro
– Espaço Cultural Grande Otelo
– Rua Dimitri Sensaud de Lavaud, 100
– ao lado da prefeitura de Osasco