Há 133 anos o segundo império brasileiro chegava ao fim, adeus à monarquia constitucional parlamentarista – os militares tomaram o poder, destituíram o imperador D. Pedro II e expulsaram toda corte para a Europa.
Sim, há uma pá da Igreja Católica nessa história, com a Questão Religiosa em 1872 encabeçada por D, Vital Maria Gonçalves de Oliveira e D. Antônio Macedo Costa – excelências da elite cristã. Um grande evento imperial acontecia no Rio de Janeiro pela Lei do Ventre Livre e o grão-mestre Visconde do Rio Branco recebia homenagens da maçonaria – ele era presidente do Conselho de Ministros do Império.
Nesse evento abolicionista, o padre maçom Almeida Martins discursou e, depois disso, seria suspenso das atividades pelo bispo do Rio de Janeiro, ato que marcaria o primeiro conflito entre clero, maçonaria e império.
Sim, os religiosos tradicionais do Brasil engrossariam a Questão Religiosa que se estenderia até 1875. Em resposta às ações contínuas da igreja, os maçons divulgaram lista com todas celebridades nacionais que eram membros – incluindo padres. A partir dessa lista maçônica, os clérigos citados foram também suspensos. Mais que isso, todos maçons estavam excomungados.
Isso causou demanda julgada pela Corte que cedeu pela maçonaria contra o bispado. No entanto, o estado sentiria o tiro no pé ao perder simpatia da própria Igreja Católica. Fato, o desânimo clerical dentro do regime monárquico abriria outras brechas.
E OS MILITARES?
O império brasileiro já tinha um Exército forte. Mas tal qual a Questão Religiosa, o governo veria surgir a Questão Militar, estopim aceso em 1884 pelo Marquês de Paranaguá que assinava projeto batindo contra a farda – relativo ao que seria hoje previdência, seguro de vida, saúde etc.
O comando militar revoltou-se e tornou isso público via imprensa. Quem falou pelo Exército foi o tenente-coronel Serra Madureira, imediatamente punido pela Corte que enfrentaria uma segunda onda em 1884, e a terceira e dois anos depois: numa sessão da Câmara em 1886, o deputado piauiense Simplício de Rezende desonrou o coronel Cunha Matos na tribuna, querela que também ganharia páginas na imprensa.
A Corte entra novamente em ação, pune o coronel e ordena prisão. No ano seguinte e ainda repercutindo contra o governo, no Rio Grande do Sul o marechal Deodoro da Fonseca assinava manifesto em defesa do coronel. Quem redigiu o texto? Rui Barbosa.
A partir de então, rupturas pontuais foram distanciando Exército e império, fenda que faria ecoar rumores republicanos – a panela fervia mais no Rio de Janeiro onde um jovem oficial berrava ideias militaristas – Benjamin Constant Botelho de Magalhães. Já em 1887, o golpe não era mais resenhas e tinha planejamento bélico contra o regime.
No Rio, o jornalão O País estimulava o circo sob direção do golpista Quintino Bocaiuva. Os republicanos ganhavam apoio dos intelectuais e chegaram a ensaiar duas investidas conspiratórias – uma em 1887, outra em 1888. A partir disso, cenário pronto para 15 de novembro.
Revendo essa linha do tempo, até sucumbir desastrosamente o império teve o primeiro cismo com a Igreja Católica, em seguida e de forma fatal com o Exército. No entanto, há uma linha extrema nesse enredo, pois desde a Guerra do Paraguai que militares e Corte entraram em farpas.
Tal qual ouve-se muito no Brasil de agora, em 1888 falava-se em ‘salvação nacional’ para justificar o golpe. Nesse ínterim e para dar forma à conspiração, o poder civil aliava-se ao militar.
11 DE NOVEMBRO
Com a política brasileira sambando em chapa quente, Deodoro da Fonseca recebe visitantes ilustres. Estamos em 11 de novembro e o marechal vê-se assediado por Rui Barbosa, Benjamin Constant, Aristides Lobo, Quintino Bocaiuva, Francisco Glicério mais o coronel Frederico Solon – todos insistindo pelo golpe.
Movimentação sem alarde, nada de agito público e nenhum palanque político até o marechal surgir para tomar o poder nesse dia 15 – o golpe teve soma militar com fazendeiros e classe média. Sim, também se vê a igreja aí, ainda que caladinha.
No mais, o levante não significou melhoria imediata nas condições do país – trabalhadores continuaram na mesma, a economia seguia colonial e a dependência de investimentos estrangeiros era gritante.
FAKE NEWS
Na véspera do golpe, os republicanos circularam boato (boato mesmo, com infiltrados) que o império estava para prender o marechal Deodoro e o tenente-coronel Benjamin Constant – o próprio marechal caiu nessa, o que facilitou tomada de decisão – tendo a Corte como inimiga, ele reúne a patriotada e segue para o centro do Rio de Janeiro, ação sumária que derrubaria os ministros de D. Pedro II.
O imperador estava a 72km dali, em Petrópolis – volta a galope para tentar recompor o governo mas já era tarde, os golpistas assumiam o poder. Isolado, abandonado e dado como vilão, D. Pedro é convidados a deixar o País com passagem só de ida – ele e toda corte. A família real sofreria punição da democracia brasileira até 1921, quando os herdeiros foram anistiados.
Por fim, cabe lembrar que o marechal da República era homem fiel ao império, amigão do trono. Sim, Deodoro da Fonseca era monárquico desde sempre mas aderiu ao golpe às vésperas – devido a fermentação de bastidores e fake news.
Ele estava bem doente nesse dia 15, sendo praticamente carregado pelos golpistas. Após a ação tomar conta, ele retorna rapidinho para casa onde assina ofício que seria entregue ao amigo D. Pedro II – anunciando tomada de poder e decretando banimento da família real. E viva a República!
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